Por Edson Outtone.
As manifestações mediúnicas sempre se constituíram em grande enigma para a humanidade. A igreja dizia ser coisa do diabo; Moisés proibiu os hebreus do uso dessas manifestações, embora tenha se valido delas para impressionar os egípcios transformando água em sangue, um cajado em serpente, tenha recebido a inscrição em pedra dos dez mandamentos.
Claro que se havia proibição é porque a mediunidade sempre existiu, a História está repleta de fatos que relatam a existência de homens que falavam com os mortos. No Egito Antigo, os magos dos faraós evocavam os mortos. Na índia, os sacerdotes brâmanes; na Grécia Antiga, as sibilas, as pitonisas tornaram famoso o Oráculo do Templo de Delphos como a morada dos deuses. Foi assim que surgiu a feitiçaria, a magia negra, as profecias, os milagres, tudo envolvido em grande mistério, pois as leis que regem esses fenômenos nunca poderiam ser reveladas.
Graças ao Espiritismo, os mistérios foram desvendados. Na Gênese, uma das obras da codificação espírita, há esclarecimentos sobre os chamados “milagres” de Jesus, ajudando a entender que a palavra milagre significa ignorância das leis naturais.
A mediunidade é uma faculdade do Espírito e todos a possuem em maior ou menor grau. Assim como temos os olhos para ver, os ouvidos para ouvir e os demais sentidos para as relações com a vida material, a mediunidade é a faculdade que possibilita a comunicação com o mundo dos Espíritos, que sendo imortais continuam vivos mesmo que desprovidos de um corpo material denso. A morte é apenas a passagem de um mundo denso para um mundo de menor densidade.
Todos os homens possuem mediunidade. É ela que permite as relações com Espíritos como os anjos de guarda ou os obsessores, tudo regulado pela Lei da Afinidade, ou seja, seremos sempre acompanhados daqueles que têm afinidade com nossos pensamentos e sentimentos. Há um ditado popular que diz: “dize-me com quem andas que te direi quem és”, no Espiritismo, aprendemos: “dize-me o que pensas que eu te direi com quem andas”, em clara alusão a essas companhias espirituais sempre semelhantes ao nosso modo de ser. Assim o egoísta, o vaidoso, o avarento, o viciado, o criminoso, o caridoso, o amoroso, o homem bom, sempre estarão na companhia espiritual correspondente. Portanto somos nós que escolhemos nossas companhias espirituais. Isso nos ajuda a refletir que não adianta só o tratamento espiritual para afastar os maus Espíritos, mas é imprescindível mudar a qualidade dos pensamentos e de sentimentos. Aprendemos que “orar e vigiar” quer dizer fazer preces e vigiar os pensamentos.
Muitos se perguntam por que uns veem, ouvem, sentem, psicografam, incorporam Espíritos e outros não. A resposta é que a mediunidade é definida pelo corpo físico, mais precisamente pelo sistema nervoso, que precisa de órgãos apropriados para as manifestações. São esses órgãos que determinam o tipo de mediunidade de cada um. Portanto não se trata de querer ou não a mediunidade, pois quem não tem um corpo apropriado organicamente não adianta querer desenvolver a mediunidade, assim como não se poderá evitá-la, negá-la ou fugir dela, quem tem o corpo adequado a essas manifestações.
Por que tais diferenças? Simplesmente porque a mediunidade é ferramenta auxiliar para a evolução do Espírito. É obrigação de todos ser bons, caridosos, pois o Evangelho nos ensina que “fora da caridade não há salvação”, mas os médiuns têm obrigação de auxiliar o próximo, colaborando no alívio das dores e sofrimentos. Aqueles que desvirtuam a mediunidade atrasam sua evolução espiritual. Como disse Jesus; “dai de graça, o que de graça recebeste”, portanto ninguém tem o direito de tirar vantagens pessoais da faculdade mediúnica.
O maior médium que conhecemos Francisco Cândido Xavier, que psicografou mais de 400 livros, vendeu mais de 50 milhões de exemplares, nunca aceitou qualquer tipo de pagamento. Ganhava seu sustento trabalhando profissionalmente e doou, com registro em cartório, toda a renda da venda de seus livros a instituições de caridade.
Podemos concluir esta reflexão esclarecendo que médium não é santo, é apenas um Espírito em evolução que recebe uma ferramenta preciosa para auxiliar o próximo. Portanto toda comunicação mediúnica deve passar pelo crivo da razão, como afirmou o apóstolo João: "Não se deve crer em todos os espíritos, mas buscar a prova que os espíritos são de Deus".
(Publicado na 8ª edição do Jornal Fraterno Maria de Nazaré, em outubro de 2016.)
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