Por Walderez Nosé Hassenpflug.
"Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disser todo o mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós."
Ainda hoje, em alguns países, os cristãos são perseguidos, pagando, muitas vezes, com a vida por adotarem o cristianismo como profissão de fé.
Jesus já alertara para esse fato, chamando a atenção sobre o quanto de sofrimento poderia estar associado à vida daqueles que permanecessem firmes em testemunhar a sua fé perante o mundo. O Mestre não nega esse sofrimento, mas afirma, nesta nona e última bem-aventurança, que a recompensa por essa atitude será a alegria, o regozijo de ter permanecido fiel a Ele e de ingressar no seleto grupo daqueles que tiverem essa coragem, como fizeram os profetas.
No Brasil, a introdução do Espiritismo também contou com a presença de inimigos externos, como também internos, e de dissidentes que ameaçavam o espírito de fraternidade que se buscava imprimir a esse movimento, como nos conta Nanci Premero na edição de janeiro-fevereiro deste Jornal. Não foi sem luta que se chegou à harmonia e à coesão que hoje percebemos.
No aspecto legal, temos garantida por lei a liberdade de escolher a religião, mas no plano pessoal, ao nos declararmos espíritas, nem sempre contamos com a aceitação dessa escolha, mesmo no seio da própria família. Muitas vezes enfrentamos preconceitos gerados pela falta de conhecimento da doutrina espírita.
Hoje dispomos de uma vasta literatura espírita que tem contribuído para tornar o espiritismo conhecido e acessível a todos, como também o atendimento fraterno em grupos espíritas com o objetivo de disseminar os ensinamentos de Jesus.
Quanto a nós, precisamos dar continuidade a esse propósito, orando, vigiando e nos esforçando incansavelmente a cada dia para manter a imprescindível coerência entre a nossa fé e a sua expressão na forma de pensamentos, palavras e ações. Cabe a nós marcar a nossa presença no mundo como espíritas, por meio de uma verdadeira vivência cristã.
Que atitudes o Mestre Jesus espera de nós frente às agressões que eventualmente enfrentarmos ao testemunhá-Lo? Na sua pregação, Jesus nos ensinou como amar ao próximo e como amar até os inimigos, aqueles de quem recebemos injúrias por tê-lo como Mestre: “Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem”. (Mt. 5,43-44)
Para que essa atitude seja possível é preciso desenvolver a compreensão de que todos nós percorremos um longo caminho na construção da nossa fé, vencendo dúvidas e dificuldades, e que ainda temos muito a caminhar nesse sentido. Por isso, aceitar nossa provisória incompletude e focar nossa atenção no aperfeiçoamento do nosso modo de ser e de expressar a influência dos ensinamentos de Jesus na nossa vida.
Colocar-se no lugar do outro e aceitar as eventuais incompreensões com respeito, concedendo ao outro o direito de pensar de forma diferente da nossa e não polemizar, porque, como afirma Allan Kardec, no Evangelho Segundo o Espiritismo, “a verdade é segura de si mesma; convence e não persegue, porque não tem necessidade de fazê-lo”. Muitas vezes um “eu compreendo” acalma os ânimos, cria um clima mais favorável a um entendimento respeitoso e rico em aprendizados para ambas as partes.
E responder a toda agressão com paciência, mansidão, misericórdia, não caindo na tentação de julgar e recusando-se a aumentar as trevas nos corações e nos ambientes. Lembrar que quando julgamos nos colocamos em campos vibratórios antagônicos que dificultam uma aproximação cordial e um diálogo fraterno. Sempre que possível, buscar esclarecer, fazer o outro refletir, mostrar outros caminhos que ainda não foram trilhados, com base no Evangelho de Jesus.
Diante dessas situações, Jesus afirma que devemos nos alegrar pelas oportunidades que nos são dadas de testar a nossa fé, tendo a certeza de que receberemos a merecida “recompensa dos céus”. A recompensa de que trata Jesus não é livrar-nos das aflições, mas enfrentá-las, tendo a capacidade de manter a paz e o bom ânimo, na certeza de que Ele está sempre conosco e que, na Sua companhia, venceremos o mundo.
“Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo. Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” João 16:32,33
Comments