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“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (ep. 7)

Por Walderez Nosé Hassenpflug.


Toda bem-aventurança aponta para uma condição e um resultado. Nesta, Jesus declara que promover a paz é uma condição para sermos identificados como filhos de Deus. Paulo de Tarso nos ensina que “Não somos pacificadores para sermos filhos de Deus, mas somos pacificadores porque somos filhos de Deus” (Efésios 2:10). Assim, temos em nós a potência de atuarmos no mundo como pacificadores.


A pregação pela paz acompanhou Jesus em toda a sua jornada na Terra. No seu nascimento os anjos anunciaram: "Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens de boa vontade" (Lc 2,10-14). Apontam os anjos que devemos glorificar a Deus por nos ter enviado Jesus, bênção de paz aos homens de boa vontade.


Vontade é disposição de espírito, força de caráter, energia e firmeza de decisão em atingir algo a que nos propomos. Boa vontade é prontificar-se a realizar algo com empenho, devotamento e benevolência. Quando a paz de Deus está presente em um ser repleto de boa vontade, ela permeia todas as suas dimensões: pensamentos, sentimentos, ações – e a pessoa se torna um instrumento da paz. Um abençoado exemplo de uma vontade ardente de pregar a paz nos foi dada por São Francisco de Assis, que principia a sua oração, rogando ao Pai que lhe permita ser um instrumento de paz: “Senhor, fazei de mim um instrumento de sua paz, onde houver ódio que eu leve o amor, onde houver ofensa que eu leve o perdão...” e assim prossegue nos ensinando como se comporta um pacificador.


Jesus faz outra pregação pela paz ao se despedir dos seus discípulos, logo após o lava-pés: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá...”. A paz que Jesus nos deixa é a interior, a paz da consciência tranquila, da certeza de obediência aos desígnios de Deus, aos seus mandamentos de amor e misericórdia. Essa paz é diferente da paz do mundo, que, de acordo com o senso comum, é a paz da acomodação, do sossego, do egoísmo, do só se importar consigo mesmo e não olhar para o sofrimento alheio.


Ser pacificador é agir pela paz no sentido em que figura dos evangelhos: uma paz que não só dissolve conflitos, inimizades, mas que perdure por meio da criação de um ambiente de reconciliação, de perdão, de estímulo à convivência pacífica e à vivência da fraternidade. É preciso não só desejar a paz, mas atuar, defender e construir a paz em todo e qualquer ambiente.


É imprescindível que um construtor da paz externa primeiro pacifique a si mesmo e seja capaz de governar a si mesmo, contendo toda impulsividade, desistindo de qualquer forma de violência, tanto física como mental, ou seja, colocando o espírito no comando das suas ações. Ao pacificar a si mesmo adquire força de caráter para contribuir com a paz coletiva e a irradiá-la onde estiver, mesmo sem ter consciência disso.


A paz interior é gerada pela certeza de que somos filhos de um Pai que é a expressão máxima do amor e habita em cada um de nós. O despertar dessa consciência faz com que nasça o novo homem de que fala Jesus, que passa a ter como princípio de vida agir de forma a respeitar a presença de Deus em si e em todos os seus filhos. Assim, descobre que somos irmãos e que devemos nos tratar com amor, paciência, tolerância, apoiando-nos uns aos outros.


Sustentam nossa ação pacificadora virtudes como a humildade e a misericórdia. São elas que agregam a nossa ação forças espirituais que contagiam, acalmam e nos ajudam a compreender e aceitar a incompletude do próximo e a nossa, sem julgamentos.


Paulo de Tarso afirma que entender a paz de Deus ultrapassa nossa capacidade de compreensão: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus” (Filipenses 4.7). Mesmo longe dessa compreensão, sempre poderemos agir vibrando paz, orando, desculpando, servindo.


Muitas vezes, manter a paz depende de atitudes como um minuto a mais de moderação, de paciência e tolerância, de um pedido sincero de desculpas ou do silêncio, quando a situação não nos permita agir. A paciência é o selo da paz, da compreensão, que nos possibilita enfrentar ofensas sem nos envolver nelas, como nos aconselha Emmanuel: “Onde estiveres, pacifica. Seja qual for a ofensa, pacifica. E perceberás, por fim, que a paz do mundo é dom de Deus, começando de ti”.


A tarefa é ingente, mas vale lembrar que não estamos sozinhos nessa busca. O Mestre Jesus nos deixou a paz como uma herança bendita e nos aconselha a afastar do nosso coração qualquer temor na sua construção: “Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14). E em João 16 complementa: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. Sem Jesus, nada podemos, mas com Ele tudo nos será possível, se tivermos bom ânimo e confiança, como afirma Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fil. 4:13). “O Senhor é o meu ajudador, e não temerei...” (Hebreus 13:6).

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