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"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (ep. 6)

Por Walderez Nosé Hassenpflug.


Nesta bem-aventurança, Jesus afirma que é com pureza de coração que podemos ver Deus. E essa possibilidade começa pelo olhar, como nos alerta Jesus: “os olhos são a lâmpada do corpo” (Mateus). Olhos bons nos iluminam por inteiro, olhos maus levam trevas para todo o nosso ser. Com o olhar entramos em sintonia vibratória com as coisas do mundo. Bondade no olhar gera pureza de coração. E com o coração podemos enxergar Deus onde Ele se encontra.


Jesus nos ensina que o Reino de Deus está dentro de nós, e João Evangelista nos diz que Deus é amor; portanto somos impregnados pela energia amorosa do Pai que se concentra no coração, sede dos nossos sentimentos.


Conscientes da presença do Pai em nós, nossa busca na vida deve ser expandir o reino de Deus, associando a pureza a todas as manifestações do nosso ser. Quanto maior a pureza, maior o amor. Quanto mais amamos, mais se manifesta em nós a presença divina. Nesse sentido é que Paulo afirma: “O coração puro é o paraíso de Deus, onde ele se deleita em habitar”.


A pureza de coração nos livra da escravidão do medo, da culpa, dos ressentimentos. Como consequência, não queremos mais julgar e sim compreender, sentir misericórdia, fazendo do perdão o caminho para a própria libertação das impurezas que ameaçam a nossa paz interior.


Guardamos no coração o patrimônio de amor adquirido ao longo das nossas vidas. Lucas nos diz que “onde estiver o nosso tesouro, ali estará também o nosso coração”. Importa refletir em que tesouros nós o ancoramos.


Como filhos, somos capazes de reconhecer a presença do Pai em nós, no próximo, na sua criação. No entanto, se não conseguirmos, é porque impurezas como turbulências, preconceitos, orgulho, materialismo, egoísmo e tantas outras poluíram o nosso olhar. As impurezas geram ignorância da nossa natureza divina e, por isso, esquecemos que somos uma unidade, a família de Deus, e que nos afetamos mutuamente por meio de palavras, sentimentos e ações.


Procedem de várias fontes as impurezas que podem nos afetar. Como nos alerta Jesus, além do olhar o nosso falar pode criá-las: “As coisas que saem da boca vêm do coração e são essas que tornam uma pessoa impura. Porque do coração é que procedem os maus intentos, homicídios, adultérios, imoralidades, roubos, falsos testemunhos, calúnias, blasfêmias. Essas coisas corrompem o indivíduo..." (Mateus).


Pensamentos também podem produzir impurezas como nos ensina o Evangelho Segundo o Espiritismo: “Só é puro de coração quem é puro de pensamentos. Se o pensamento é torpe, o coração não pode ser puro. Significa dizer que a pureza, reflexo de um sentimento acrisolado, teve seu nascedouro no pensamento puro”. Para Kardec, pureza é reflexo de um sentimento acrisolado que, como a prata bruta, é lapidado em um crisol.


Metaforicamente, a vida é o nosso crisol, onde nós, pedras brutas, depuramos sentimentos, pensamentos e dirigimos a nossa vontade na direção da prática do bem. É um processo longo, exigente, que nos impõe escolhas e sacrifícios difíceis, uma vez que, como a prata, somos expostos continuamente ao fogo do burilamento até que sejam eliminadas as nossas arestas e impurezas.


No processo de depuração da prata, tudo dependia da presença de um artífice que conduzisse à perfeição essa transformação, caso contrário, a prata seria consumida pelo fogo. Deus é o nosso artífice e trabalhará em nós até que Seu rosto possa se refletir na pureza do nosso coração, como acontece com a prata polida que reflete em si o seu artífice.


Não podemos, no entanto, esquecer de fazer a nossa parte, como nos orienta Emmanuel, uma vez que “somos os artífices da nossa própria grandeza”. Precisamos confiar plenamente no nosso Artífice, enfrentar com coragem e discernimento nosso processo de purificação. Orar e vigiar sempre. Aprofundar nossas reflexões sobre como olhamos, falamos e pensamos, cientes da responsabilidade que temos de não poluir nosso interior ou os ambientes onde vivemos. Manter uma ligação de amor e bondade com a vida, por meio de virtudes apontadas por Jesus nas bem-aventuranças: a humildade que é o firme e indispensável alicerce para a conquista das demais virtudes espirituais; a mansidão, atitude mental e força poderosa de quem consegue governar a si mesmo; a fome e a sede de justiça divina que despertarão em nós uma imperiosa necessidade de integridade, de pensar, sentir e agir com retidão e honestidade; a misericórdia, que nos coloca no lugar do outro para sentir o que ele sente, compreender suas razões e perdoá-lo, impedindo assim que inúmeras impurezas poluam o nosso coração.


Para São Francisco, a pureza de coração não é uma virtude moral, mas uma disposição interior, uma firme vontade de orientar o nosso relacionamento com Deus, com os outros, com o mundo e com nós mesmos, tendo o amor e a caridade como princípios fundamentais da nossa ação, que Jesus sabiamente resumiu no novo mandamento: “que vos ameis uns aos outros como Eu vos tenho amado”. Que assim seja!

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