Por Walderez Nosé Hassenpflug.
Jesus, nesta bem-aventurança, expressa a atuação da lei de sintonia: misericórdia atrai misericórdia; sendo misericordiosos, mereceremos a misericórdia divina e seremos bem-aventurados. Ele nos recomenda que sejamos misericordiosos, como misericordioso é o Pai. Nas escrituras sagradas Deus é apresentado como aquele que se compadece, acolhe e “é riquíssimo em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou... nos deu vida”. E nós, seus filhos, “somos feitura d’Ele, criados em Cristo Jesus para as boas obras”. (Paulo)
A nós, cristãos, cabe sermos misericordiosos e reconhecer o quanto precisamos pedi-la ao Pai para aceitar a nossa provisória imperfeição e nos perdoar pelas inúmeras falhas na vivência do amor. Nosso ideal é servir a Jesus.
Cabe aqui uma reflexão: temos sido misericordiosos? Onde avançar?
A misericórdia é uma herança que recebemos do nosso Pai e por isso temos o dever de expressá-la no mundo para refletir nele a Sua face misericordiosa. É ela que nos leva ao autoperdão, ao reequilíbrio de nossas energias para seguir adiante. Ao vivenciar essas experiências somos capazes de compreender os enganos alheios, pedir ao Pai misericórdia por eles e perdoá-los, não para fugir da justiça, nem do combate ao mal, mas para acolhê-los e contribuir para que se sintam dignos filhos de Deus.
Ser misericordioso é colocar-se no lugar do outro e sentir as suas carências, o seu desemparo, até o ponto em que possamos olhar com os seus olhos, pensar com sua mente e sentir com o seu coração, inundando-o com os complementos da misericórdia: a compaixão, a brandura e a mansidão. A compaixão nos faz compreender e sentir a miséria do outro, mas a misericórdia vai além, alivia a dor, o desespero, a solidão e envida todos os esforços para restaurar forças e reerguer a esperança daquele que sofre.
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ensina que a misericórdia envolve o não julgar, porque não somos capazes de ser justos, por isso, devemos entregar a justiça a Deus. Aceitar a natureza inacabada do ser humano e de nós mesmos e assim perdoar. Perdoar não porque a pessoa mereça ou não (isso não seria julgar?); perdoar porque o outro é o nosso irmão e devemos amá-lo e não condená-lo; não é negar a culpa, mas acolher quem erra. Perdoar sem constranger, abolindo o rancor, o ressentimento, o desejo de vingança. Enfim, tratar os outros como gostaríamos de ser tratados.
Exemplos perfeitos de misericórdia nos deixaram Jesus e Estêvão. Jesus, perante aqueles que escarneciam d’Ele, levanta seus olhos e implora: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”. Estêvão, ao ser apedrejado e sentindo que seu fim estava próximo, cai de joelhos e clama a Deus: “Pai, não lhes imputes este pecado”. Ambos nos deixam uma clara mensagem: é preciso ser misericordioso, porque o mal é um produto da ignorância sobre a finalidade da vida, sobre quem somos e sobre as leis espirituais que nos regem. Jesus amou a Pedro, Paulo, Levi, Maria Madalena, Zaqueu, Judas, sem apontar-lhes os erros ou julgá-los. E Ele nos pediu, por meio da parábola do bom samaritano, a fazer o mesmo.
Nessa parábola quem trata com misericórdia um homem atacado por ladrões e deixado inconsciente à beira do caminho é um samaritano, odiado pelos judeus e tido como herege, inimigo. O samaritano atua sem perguntar quem era o homem, quais razões o levaram a essa situação; simplesmente age. Age misericordiosamente, coloca-se no lugar do outro, se compadece e ajuda, sem expectativa de qualquer retorno. Um sacerdote e um levita, ambos homens religiosos ligados a templos judaicos, passam ao largo e não veem motivos para socorrê-lo. E Jesus pergunta ao doutor da lei: Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? E este responde: Aquele que usou de misericórdia para com ele. – Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (Lucas)
O conselho de Jesus vale para todos nós: vai e faze o mesmo, espalha a tua misericórdia para quem dela necessitar, sem nada perguntar, sem nada pedir em troca. Simplesmente age e serás bem-aventurado.
No entanto, se não nos sentirmos capazes de suprir às necessidades de quem sofre, como desejamos, certamente podemos praticar pequenas ações nesse sentido. Sempre haverá, nos ambientes em que atuamos, na família, no trabalho, nos grupos sociais, alguém que precise da misericórdia da nossa paciência, da nossa atenção, de um abraço acolhedor, de uma palavra de estímulo, de uma prece ou uma vibração de amor. Devemos aproveitar essas “pequenas” oportunidades, ser fiéis no pouco para termos direito a avançar no muito: “... servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor". (Mateus)
Como nos adverte Emmanuel, “muito podemos realizar a benefício do próximo por aquilo que conhecemos, mas somente conseguiremos renovar os semelhantes por aquilo que somos”. Sejamos, pois, misericordiosos para gerar misericórdia e diminuir o sofrimento no mundo. Que o Pai nos abençoe!
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