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"Bem-aventurados os aflitos, os que choram, porque serão consolados" (ep.2)

Por Walderez Nosé Hassenpflug com colaboração de Elenice Valéria Lia.


Nesta segunda bem-aventurança, à semelhança do que fez na primeira, em que declara felizes os pobres pelo espírito, Jesus, mais uma vez, contraria os valores do mundo ao dizer que são bem-aventurados os aflitos, os que choram. Para o mundo, o sofrimento não tem nada a ver com bem-aventurança. Bem-aventurados seriam os que levam uma vida tranquila e sem dificuldades.


Ao vir à Terra, Jesus, como nós, não ficou imune às aflições. Por amor a nós e em obediência ao Pai enfrentou sofrimentos atrozes para nos revelar que nossa verdadeira natureza é espiritual e que o seu reino não é deste mundo. Por isso, Ele nos alerta: “no mundo sofrereis tribulações; mas tende fé e coragem! Eu venci o mundo”.


Quanto a nós, começamos a vencer o mundo quando adquirimos a consciência de que nos falta algo que a matéria não pode nos trazer. Enquanto mergulhados nela, agarramo-nos à ilusão de preencher o que nos falta com as coisas do mundo. Porém, em determinada etapa da nossa evolução, cansados dos falsos tesouros que nos dão uma sensação passageira de felicidade, começamos uma busca aflitiva por algo que ainda não sabemos bem o que é, mas que aos poucos se configura dentro de nós: queremos uma felicidade mais duradoura, baseada em valores mais perenes, que deem um novo sentido a nossa vida. Trata-se de uma fome de natureza espiritual.


É justo o empenho em matar a nossa fome material, mas Jesus nos pede para não andarmos inquietos com o que comer, beber ou vestir, nem com o dia de amanhã, porque o Pai sabe que necessitamos de todas essas coisas, e estabelece qual fome priorizar: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas”.


Talvez seja este o nosso estágio atual ou o que nos motivou a procurar o apoio desta Casa e o amparo da Nossa Mãe, Maria de Nazaré – buscar o reino de Deus e sua justiça. Porém, ao reconhecer a distância que nos separa desse ideal, nos angustiamos e perguntamos a nós mesmos se seremos capazes de encontrá-lo.


Bendita fome espiritual, bendita aflição. Se aproveitarmos bem esse sentimento de incompletude e persistirmos na busca, compreenderemos o significado das aflições em nossa vida. “Aflições, dificuldades e lutas são forças que compelem à dilatação de poder, ao alargamento de caminhos.” (Emmanuel).


Kardec, no capítulo V do Evangelho Segundo o Espiritismo, nos explica o sentido desta bem-aventurança. “Jesus indica, ao mesmo tempo, a compensação que esperam os que sofrem e a resignação que nos faz bendizer o sofrimento como o prelúdio da cura.”


As aflições continuarão a fazer parte da nossa vida cumprindo o seu papel de nos impulsionar a seguir adiante, com fé e coragem, sem estacionar nas nossas conquistas. Um dia descobriremos que a verdadeira felicidade é cumprir inteiramente a vontade de Deus, expressa no Evangelho de Jesus: amar a todos como Ele nos amou. Com essa compreensão do que é ser feliz, buscaremos uma felicidade verdadeira e seremos consolados.


Será um longo processo permeado por avanços e retrocessos, por quedas e retomadas. O importante é persistir e construir a nossa fé em alicerces firmes como a rocha e não na areia, sabendo que essa firmeza será provada nos momentos de tempestade. Não temos razão para sentir medo ou solidão. Jesus estará caminhando ao nosso lado, hoje e sempre, até a consumação dos séculos. Ouçamos a sua voz: “Não se turbe o vosso coração. Tende fé em Deus, tende fé em mim também”.


É preciso lembrar que nem todas as aflições nos trazem benefícios. Benditas são as que nos levam a confiar em Deus e a submeter a nossa vontade à Dele, sabendo que nenhuma injustiça poderá vir de um Pai que é a própria Justiça. São as que nos estimulam a reconhecer com humildade a nossa aparente pequenez espiritual como um estímulo para crescer. São as que nos fazem aproveitar a queda, para refletir sobre as nossas ações e aprender com os erros, sem estacionar na culpa, e sim avançar na direção da regeneração, como nos orienta Kardec no Livro dos Espíritos.


As aflições pelas quais passamos nos levam a uma identificação maior com todos os que sofrem e nos sensibilizam para fazer por eles o que gostaríamos que fizessem por nós, nas mesmas circunstâncias: ter um ombro amigo para nos ouvir, nos acolher e consolar, para nos dizer que compreende a nossa dor e transmitir a esperança de que tudo passará, talvez não no nosso tempo, mas no tempo de Deus. Enfim, proveitosas são as aflições que nos ensinam a agir no bem a fim de evitar a reprodução desnecessária de novos sofrimentos.


Concluímos estas reflexões citando uma mensagem de Lacordaire que consta das Instruções dos Espíritos, capítulo V do Evangelho Segundo o Espiritismo: “Bem-aventurados os aflitos, os que têm a oportunidade de provar a sua fé, a sua firmeza, a sua perseverança e a sua submissão à vontade de Deus, porque eles terão centuplicadas as alegrias que lhes faltam na Terra, e após o trabalho virá o repouso”.


Esperamos que, ao passar por aflições, possamos reforçar a nossa convicção de que o sofrimento nunca será a negação do amor de Deus. Será sempre o remédio que prenuncia a cura, a preciosa oportunidade para que ouçamos a Sua voz: Filho meu, não te esqueças da minha lei... confia no Senhor com todo o teu coração... reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas.” Pedimos ao Mestre Jesus que nas horas de aflição, quando nosso fardo parecer pesado demais para os nossos frágeis ombros, Ele segure firmemente a nossa mão, enxugue as nossas lágrimas, e nos conduza ao caminho da bem-aventurança e da consolação.


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